Da
mesma forma como somos recebidos por uma pessoa que amamos após um longo tempo
longe, assim fui recebido naquele lugar
que nitidamente desconhecia. Lembro-me de ser conduzido a um salão bem grande após
a minha chegada.
Havia
pessoas por toda a parte. Todas elas estavam vestidas com roupas de cores claras
e brilhantes.
Quando
entro, oiço aplausos e vejo sorrisos. As pessoas todas de pé, aplaudindo e
sorrindo. Uma alegria repentina toma conta de mim. Pergunto para mim mesmo se
toda aquela saudação é mesmo para mim. A forma como as pessoas aplaudiam,
sorriam e acenavam fazia-me pensar que eu tinha realizado algum feito. Mas não
me lembrava de nada. Nem do lugar, nem das pessoas, nem de ter realizado nada
importante.
Continuava
incrédulo mas, as pessoas não paravam de aplaudir, de acenar, de sorrir. Por
algum momento cheguei a pensar que estariam equivocadas, que eu não era quem
elas pensavam que eu fosse. Mas estaria toda aquela multidão enganada? Não!
Tudo indicava que aquelas pessoas me conheciam. O único embaraço é que eu não as conhecia.
Nem a elas, nem a mim mesmo. Quem sou eu? Quem fui eu? O que faço aqui?
Por
momentos pensei em perguntar o homem que se encontrava bem ao meu lado. Acabei
por hesitar e ao invés disso apertei-lhe a mão. Foi sem dúvida o aperto de mãos
mais sincero que alguma vez havia recebido. Verifiquei que acabara de me
lembrar os apertos de mãos que eu havia recebido. Seria isso uma lembrança?
Será que aquele simples aperto de mãos poderia desencadear em mim essa
lembrança? Súbito procuro por alguma anormalidade em minha mão. Não encontro
nada anormal.
Após
algum tempo as pessoas cessaram de aplaudir. Mas, por incrível que pareça
continuaram sorrindo. Bastou um único
gesto de um dos homens para que o silêncio tomasse conta do grande salão. Foi
então que esse homem começou a falar:
Seja
bem vindo! Sei que estás um pouco confuso, mas isso é normal após longas e
dolorosas viagens. Como pudeste ver ficamos todos satisfeitos com a tua
chegada. Voltaste a tua casa, para junto dos teus irmãos, amigos e familiares.
Esse é a tua verdadeira vida, esse é o teu verdadeiro lar. Ainda tudo parece
muito estranho mas, as lembranças começarão a surgir, tanto as daqui como as
dali. Aplaudimos-te e foste recebido
dessa forma porque sabemos o quão difícil foi a tua caminhada até aqui.
Vimos quantas lutas travaste contigo mesmo. As lutas com os outros não importam
porque não nos ajudam a crescer. Fazem precisamente o contrário disso. As
verdadeiras vitórias advém unicamente das lutas que travamos connosco mesmos.
Todos
partem daqui com uma enorme vontade de voltar. E por mais que os avisemos dos
perigos da sua jornada, acabam por esquecer quem são realmente. Esquecem porque,
o lugar para onde se dirigem possui muitas tentações. Mas não são enviados para
ficarem presos. São enviados para se libertarem o quanto antes, para se ver o
quão fortes são. A vossa vida ali nada mais é do que um teste.
Mesmo
que pudesses ter dúvidas disso, agora já não tens mais. Não! Não estas a
sonhar. Já acordaste faz tempo. Outras pessoas no entanto, ainda continuam num
sono profundo. Mas, um dia irão acordar.
O
segredo para o sucesso é não esquecermos. Tem pequenas coisas, pequenos
detalhes que carregamos connosco. E a nossa volta será mais rápida e mais fácil
se não esquecermos dessas pequenas coisas. Uma delas é que nós somos almas
imortais. Todas as pessoas que te rodeiam como nós que estamos aqui contigo
somos almas imortais. E, quando esquecemos isso, passamos a pensar que nós
somos os nossos corpos, e com isso passamos a temer a morte.
Culto
ao corpo, medo da morte, alimentação de vícios, isso tudo acontece quando
esquecemos esse pequeno segredinho que prometemos guardar e não esquecer. E tu
conseguiste guardá-lo. E, por via disso estás aqui connosco.
Não
só lembraste disso mas tentaste fazer com que outras pessoas também lembrassem. Um dia estarão aqui connosco e tu, estarás também
aplaudindo a chegada de cada um. É que nós todos somos irmãos. Nós todos
queremos o bem uns dos outros.
Erick Gomes
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