quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Alegoria ou Mito da Caverna - Tempos Actuais

A Alegoria da Caverna de Platão é uma daquelas histórias – ou mitos – que percorrem milénios a fio sem deixar de fazer as pessoas reflectirem a seu respeito
O que é difícil perceber é como um escrito do século IV a. C., ainda é bem visível nos nossos dias e não foi “devorado” ou esquecido pelo tempo.
O objectivo do diálogo não é narrar o mito tal como foi descrito por Platão - Isso pode ser encontrado em qualquer livro e até mesmo na internet - mas sim, pensar sobre o diálogo e tentar trazê-lo para a actualidade, para um mundo onde se dá mais valor ao ter do que ao ser, em que as imagens valem mais que as palavras e em que as pessoas parecem estar num sono profundo.

*
A: Já aconteceu pensares que estejamos vivendo à semelhança dos prisioneiros da caverna que Platão fala em sua obra, A República?

B: Como assim?

A: Será verdade que em nossa vida não vemos senão sombras da realidade e que isso nos faz preocupar com coisas que não nos trazem proveito nenhum? Já pensaste nisso?

B: Não nunca tinha pensado em trazer a experiência de Platão para a realidade se é isso que queres dizer.

A: Mas será que é mesmo a tua realidade ou a sombra dela?

B: A minha realidade pois, penso que a nossa vida parece ser tão real que é difícil imaginar que não é aqui que se vive realmente.

A: A vida nesse mundo parece sim ser real, mas para Platão ela é apenas uma ilusão.
B: Mas é difícil acreditar.

A: Foi também difícil para os prisioneiros da caverna acreditarem que estavam vivendo numa ilusão e que, as sombras que viam na parede não eram a realidade em si. E, quando um deles foi liberto da ilusão e ignorância que vivia, quis contar aos outros mas eles pensavam que ele tinha ficado louco.

E se fossem eles os realmente loucos, ao acreditarem que as sombras eram a realidade? E se nós hoje, estivermos também cegos e loucos a ponto de não acreditar naquilo que não existe? E se vivemos de facto num mundo de ilusões e aparências? E se existe de facto um mundo para onde se dirigem as almas após a morte? E se esse mundo é de facto melhor que o mundo que estamos vivendo?

A: Penso que se isso acontecesse, a concepção que temos da vida se tornaria do avesso.

B: Mas, e se ver a vida dessa maneira for a única forma de passarmos para um mundo melhor? Isso não valeria a pena?

A: Pode ser que sim mas é difícil acreditar nisso como disse.

B: O prisioneiro libertado também não queria acreditar no que via quando foi libertado da caverna. Antes fugiu para a caverna onde podia ver as sombras que se tinha familiarizado e, portanto, que considerava ser as coisas reais.

A: Mas isso é diferente, é apenas uma história.

B: Mas se ela for uma história real? E se o objectivo de Platão fosse despertar-nos para a realidade? E se aquilo que temos vindo a dar valor não tivesse valor nenhum? Se o corpo for realmente o cárcere da nossa alma?

A: Mas a verdade é que poucas pessoas estão realmente interessadas em pensar dessa forma.

B: Como é que haveriam de pensar dessa forma se estão vivendo a vida como aqueles prisioneiros que não queriam se despertar da ignorância?

A: Queres dizer que nós temos de convencer de que o que vemos são sombras e não as coisas em si?

B: Sim isso que a alegoria da caverna nos queria dizer.

A: Se isso é verdade, então qual seria o objectivo da vida?

B: Precisamente a libertação da ignorância e da  ilusão que vivemos.

A: E como podemos fazer isso?

B: Dando mais valor a alma do que ao corpo, e mais a virtude do que as coisas materiais.

A: Mas há pessoas que nem sequer acreditam na existência da alma.

B: Sim, é verdade e, para essas pessoas, libertação da ignorância pode demorar mais tempo. Mas há pessoas que não querem realmente libertarem-se da ilusão. Penso que isso acontece por dois motivos.

A: Quais?

B: Primeiro porque ainda não ouviram ninguém falar-lhes desses assuntos pelo que os desconhece. Segundo porque já estão tão acostumados a ver as sombras, a conviver com elas que não conseguem sequer pensar na existência de algo para além delas.
A: Falas bem mas será que falas verdade?

B: Podemos viver bem mas será que vivemos a vida real?

A: Devo dizer que estas me confundido.

B: Mas não é minha intenção.

A: Então qual a tua intenção?

B: Levar-te a pensar sobre o assunto e, pelos vistos estou conseguindo.

A: Pois estás.

B: Não sei se a alegoria de Platão conta a verdade. Sei porém que ele nos faz pensar muito a respeito da nossa vida. Eu pelo menos, quero pensar nela, torná-la meu guia e ver até onde será capaz de me levar. Se me leva para um porto seguro de águas calmas ou se para um porto inseguro de águas agitadas.

A: Mas porquê depositar tanta confiança num relato que nem sequer sabes se é verdade?

B: Para mim faz mais sentido viver pensado que esse não é o mundo real.

A: Porquê?

B: Penso que num mundo real, não existem injustiças, vícios nem nenhum outro mal. Quero pois, ver até que ponto sou capaz de deixar a ilusão para trás e me preparar para uma vida real.



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