quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ensinar ou Orientar?





 



O presente diálogo tenta perceber que tipo de relação existe entre o mestre e o discípulo. Cabe ao mestre ensinar ou orientar o discípulo?
Se lhe cabe ensinar, poderá ser capaz de ensinar o que não sabe? E, por outro lado, se é um orientador, poderá orientá-lo para um caminho que nunca percorreu?

I

M: Há quem chamamos mestre e quem chamamos discípulo?

D: Perfeitamente

M: Quem é mestre sempre o foi ou antes de o ser fora também discípulo?

D: É óbvio que fora antes disso um discípulo

M: Não é verdade que muitos dizem que a função do mestre seja ensinar e a do discípulo aprender?

D: Sim e, penso que falam bem.

M: O mestre ensina somente o que sabe ou também o que não sabe?

D: Como é que alguém que não sabe uma coisa seja capaz de o ensinar à alguém? Não entendo

M: Eu também, custa-me acreditar nisso. Aliás, custa-me acreditar também que,  a função do mestre seja realmente ensinar.

D: Mas, se não é isso que é a sua função então qual é?

M: É o que tentaremos compreender. Se o discípulo discorda do mestre num ponto, qual deve ser a posição deste? Repreende-lo ou incentivá-lo a investigar mais sobre a sua posição?

D: Penso que o mestre deveria repreende-lo pois, o discípulo deve respeito ao mestre.

M: Mas, repara que, se o mestre repreendesse todos os que, discordam dele, isso nos levaria a pensar que ele sabe tudo. E, como tínhamos dito antes, há coisas que os mestres não sabem. Ou não é isso que dissemos antes?

D: Sim

M: Então, não convém ao mestre incentivar o discípulo do que repreende-lo?

D: Sim

M: E quanto ao incentivo é uma coisa boa somente quando for feita de boa-fé não é?

D: Acredito que sim

M: O mestre que é bom não quererá o bem para o seu discípulo? 

D: Sim

M: Então, achas que, ele deverá   incentivá-lo mesmo quando esse incentivo se mostrar ser prejudicial?

D: Claro que não.

M: Antes disso, diz o que pensa e jamais tenta prejudicar o discípulo não é?

D: Penso que sim

M: Incentiva-o a procurar,  alertando-o para os perigos ou não se preocupa em fazer isso?

D: Mas que tipo de mestre seria esse se não alerta o discípulo para os perigos da sua jornada?

M: Para mim, o mestre se parece mais com alguém que orienta do que alguém que ensina. Mas, a decisão de seguir um caminho ou outro é sempre do discípulo. Pois, qualquer forma de imposição ou obrigação do mestre para com o discípulo deixa de ser uma orientação.

D: Mas se o discípulo descobrir que o caminho escolhido não foi o melhor?

M: Tentará o quanto antes redireccionar o seu trajecto. E não poderá culpar ninguém a não ser ele mesmo pela sua escolha. Ao passo que, se o caminho a ser seguido fosse imposto ou obrigado por alguém não poderíamos dizer o mesmo. Ou não achas que, aquele que nos obriga a seguir um caminho seja tão culpado quanto nós em caso de fracassarmos?

D: Evidentemente que sim.

M: Então deixemos que os mestres nos orientam mas que, nunca decidam por nós!









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