O presente diálogo tenta perceber que tipo de relação existe
entre o mestre e o discípulo. Cabe ao mestre ensinar ou orientar o discípulo?
Se lhe cabe ensinar, poderá ser capaz de ensinar o que não
sabe? E, por outro lado, se é um orientador, poderá orientá-lo para um caminho
que nunca percorreu?
I
M: Há quem chamamos mestre e quem chamamos discípulo?
D: Perfeitamente
M: Quem é mestre sempre o foi ou antes de o ser fora
também discípulo?
D: É óbvio que fora antes disso um discípulo
M: Não é verdade que muitos dizem que a função do mestre
seja ensinar e a do discípulo aprender?
D: Sim e, penso que falam bem.
M: O mestre ensina somente o que sabe ou também o que
não sabe?
D: Como é que alguém que não sabe uma coisa seja capaz
de o ensinar à alguém? Não entendo
M: Eu também, custa-me acreditar nisso. Aliás, custa-me
acreditar também que, a função do mestre
seja realmente ensinar.
D: Mas, se não é isso que é a sua função então qual é?
M: É o que tentaremos compreender. Se o discípulo
discorda do mestre num ponto, qual deve ser a posição deste? Repreende-lo ou incentivá-lo a investigar mais sobre a sua posição?
D: Penso que o mestre deveria repreende-lo pois, o
discípulo deve respeito ao mestre.
M: Mas, repara que, se o mestre repreendesse todos os
que, discordam dele, isso nos levaria a pensar que ele sabe tudo. E, como
tínhamos dito antes, há coisas que os mestres não sabem. Ou não é isso que
dissemos antes?
D: Sim
M: Então, não convém ao mestre incentivar o discípulo do
que repreende-lo?
D: Sim
M: E quanto ao incentivo é uma coisa boa somente quando
for feita de boa-fé não é?
D: Acredito que sim
M: O mestre que é bom não quererá o bem para o seu
discípulo?
D: Sim
M: Então, achas que, ele deverá incentivá-lo mesmo quando esse incentivo se
mostrar ser prejudicial?
D: Claro que não.
M: Antes disso, diz o que pensa e jamais tenta
prejudicar o discípulo não é?
D: Penso que sim
M: Incentiva-o a procurar, alertando-o para os perigos ou não se
preocupa em fazer isso?
D: Mas que tipo de mestre seria esse se não alerta o
discípulo para os perigos da sua jornada?
M: Para mim, o mestre se parece mais com alguém que
orienta do que alguém que ensina. Mas, a decisão de seguir um caminho ou outro
é sempre do discípulo. Pois, qualquer forma de imposição ou obrigação do mestre
para com o discípulo deixa de ser uma orientação.
D: Mas se o discípulo descobrir que o caminho escolhido
não foi o melhor?
M: Tentará o quanto antes redireccionar o seu trajecto.
E não poderá culpar ninguém a não ser ele mesmo pela sua escolha. Ao passo que,
se o caminho a ser seguido fosse imposto ou obrigado por alguém não poderíamos
dizer o mesmo. Ou não achas que, aquele que nos obriga a seguir um caminho seja
tão culpado quanto nós em caso de fracassarmos?
D: Evidentemente que sim.
M: Então deixemos que os mestres nos orientam mas que,
nunca decidam por nós!
Qual é a fonte deste diálogo, Ensinar ou orientar?
ResponderEliminarCriação do autor do blog
ResponderEliminar