segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Quem sou eu? Quem fui eu? O que faço aqui?

Da mesma forma como somos recebidos por uma pessoa que amamos após um longo tempo longe, assim fui  recebido naquele lugar que nitidamente desconhecia. Lembro-me de ser conduzido a um salão bem grande após a minha chegada.
Havia pessoas por toda a parte. Todas elas estavam vestidas com roupas de cores claras e brilhantes.
Quando entro, oiço aplausos e vejo sorrisos. As pessoas todas de pé, aplaudindo e sorrindo. Uma alegria repentina toma conta de mim. Pergunto para mim mesmo se toda aquela saudação é mesmo para mim. A forma como as pessoas aplaudiam, sorriam e acenavam fazia-me pensar que eu tinha realizado algum feito. Mas não me lembrava de nada. Nem do lugar, nem das pessoas, nem de ter realizado nada importante.
Continuava incrédulo mas, as pessoas não paravam de aplaudir, de acenar, de sorrir. Por algum momento cheguei a pensar que estariam equivocadas, que eu não era quem elas pensavam que eu fosse. Mas estaria toda aquela multidão enganada? Não! Tudo indicava que aquelas pessoas me conheciam. O único embaraço é que eu não as conhecia. Nem a elas, nem a mim mesmo. Quem sou eu? Quem fui eu? O que faço aqui?
Por momentos pensei em perguntar o homem que se encontrava bem ao meu lado. Acabei por hesitar e ao invés disso apertei-lhe a mão. Foi sem dúvida o aperto de mãos mais sincero que alguma vez havia recebido. Verifiquei que acabara de me lembrar os apertos de mãos que eu havia recebido. Seria isso uma lembrança? Será que aquele simples aperto de mãos poderia desencadear em mim essa lembrança? Súbito procuro por alguma anormalidade em minha mão. Não encontro nada anormal.
Após algum tempo as pessoas cessaram de aplaudir. Mas, por incrível que pareça continuaram sorrindo.   Bastou um único gesto de um dos homens para que o silêncio tomasse conta do grande salão. Foi então que esse homem começou a falar:
Seja bem vindo! Sei que estás um pouco confuso, mas isso é normal após longas e dolorosas viagens. Como pudeste ver ficamos todos satisfeitos com a tua chegada. Voltaste a tua casa, para junto dos teus irmãos, amigos e familiares. Esse é a tua verdadeira vida, esse é o teu verdadeiro lar. Ainda tudo parece muito estranho mas, as lembranças começarão a surgir, tanto as daqui como as dali. Aplaudimos-te e foste recebido  dessa forma porque sabemos o quão difícil foi a tua caminhada até aqui. Vimos quantas lutas travaste contigo mesmo. As lutas com os outros não importam porque não nos ajudam a crescer. Fazem precisamente o contrário disso. As verdadeiras vitórias advém unicamente das lutas que travamos connosco mesmos.
Todos partem daqui com uma enorme vontade de voltar. E por mais que os avisemos dos perigos da sua jornada, acabam por esquecer quem são realmente. Esquecem porque, o lugar para onde se dirigem possui muitas tentações. Mas não são enviados para ficarem presos. São enviados para se libertarem o quanto antes, para se ver o quão fortes são. A vossa vida ali nada mais é do que um teste.
Mesmo que pudesses ter dúvidas disso, agora já não tens mais. Não! Não estas a sonhar. Já acordaste faz tempo. Outras pessoas no entanto, ainda continuam num sono profundo. Mas, um dia irão acordar.
O segredo para o sucesso é não esquecermos. Tem pequenas coisas, pequenos detalhes que carregamos connosco. E a nossa volta será mais rápida e mais fácil se não esquecermos dessas pequenas coisas. Uma delas é que nós somos almas imortais. Todas as pessoas que te rodeiam como nós que estamos aqui contigo somos almas imortais. E, quando esquecemos isso, passamos a pensar que nós somos os nossos corpos, e com isso passamos a temer a morte.
Culto ao corpo, medo da morte, alimentação de vícios, isso tudo acontece quando esquecemos esse pequeno segredinho que prometemos guardar e não esquecer. E tu conseguiste guardá-lo. E, por via disso estás aqui connosco.
Não só lembraste disso mas tentaste fazer com que outras pessoas também lembrassem. Um dia estarão aqui connosco e tu, estarás também aplaudindo a chegada de cada um. É que nós todos somos irmãos. Nós todos queremos o bem uns dos outros.


Erick Gomes

domingo, 8 de junho de 2014

Platão...

Filosofia de Platão já é algo pronto, finalizado. Foi forma que ele encontrou para encarar e tentar resolver os problemas de sua época e talvez de sua vida. Se ainda hoje a sua filosofia faz sentido, já é bom indício para levares em consideração o que ele afirmava há séculos atrás. Mas seguir ideias de um determinado filósofo, não quer dizer que a nossa vida perde a sua originalidade. Sempre seremos responsáveis pelas nossas decisões. Ainda tens muito que aprender com a vida. Ainda tens muitas escolhas para fazer. Seguir a filosofia de Platão pode fazer parte dessas escolhas. Se isso é uma boa ou má escolha, só tu podes dizê-lo! Se pensas que é uma boa escolha, então continua firme. Estuda para poderes aprender cada vez mais. Lembra-te que cada detalhe é importante. Platão não construiu toda a sua filosofia de um dia para outro. Portanto ela não pode ser analisada convenientemente de um dia para outro. Seguir Platão não quer dizer que deverás ler apenas suas obras. Deves também ler obras de outros autores. Mas lembra-te sempre que deves viver de forma original. Aliás é óbvio que dois estudantes de filosofia não vivem de forma idêntica. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Confie...

Confie mais em você mesmo. Não te deixes enganar por ninguém. Estás no caminho certo. Isso é que importa. Sabes que nem tudo é feito de facilidades. Aliás, as dificuldades são também formas de aprendermos. Deves pensar e reflectir sobre o que cada dificuldade quer te mostrar. Se caíres, levanta-te outra vez. Não estás sozinho. Podes pedir ajuda sempre que necessitares. É verdade que viver nesse mundo não é fácil. Mas acredite; a forma como vives, tem o seu mérito. Lembra-te que, numa corrida, ninguém é vencedor na metade do caminho mas após ter atingido a meta. Durante o seu trajecto ela pode cair. Mas, sua vontade de vencer é tanta que ele se levanta e segue em frente. O mesmo se passa em relação à nossa vida. Ela é um longo trajecto, com algumas dificuldades no meio. Mas, essas dificuldades não podem nos tirar o desejo de vencer no fim, nem a esperança de que, quanto melhor for a nossa caminhada melhor será o “prémio” que recebermos no fim. 

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Sabes...

Esse não é o mundo que pertences. Mas há uma razão para cá estares. Procure-a. E quando a encontrares tudo fará mais sentido. Não te desesperes. Proceda sempre com calma. Lembra-te sempre que a pressa é inimiga da perfeição. Não espere muito das pessoas nem coloque a tua felicidade em suas mãos. Procure a melhor forma de ocupares o tempo. Faça coisas benéficas, coisas de que mais tarde te orgulharás. Não sejas egoísta. Ajude quem precisar, quando puderes. Não exija demasiado de você mesmo. Faça o bem e evite o mal. Pense no bem, não no mal. Evite ofender as pessoas. Evite falar palavrões. Não sejas grosso. Fale com calma. Respeita as pessoas. Evite conversas desagradáveis. Não deixe a tua energia ser consumida. Renove-a todos os dias. Peça energia e terás energia. Não a use somente em teu benefício. Use-a também em benefício dos outros. Transmita-lhes energia. Faça com que a tua presença seja agradável. Mostre-lhes aquilo que os seus olhos não podem ver. Fale com a alma e não com o corpo. Sinta a sua perfeição. Fortifica-a com bons pensamentos. Eleva-a as alturas. Aproxima-a do Divino e viverás melhor.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Alegoria ou Mito da Caverna - Tempos Actuais

A Alegoria da Caverna de Platão é uma daquelas histórias – ou mitos – que percorrem milénios a fio sem deixar de fazer as pessoas reflectirem a seu respeito
O que é difícil perceber é como um escrito do século IV a. C., ainda é bem visível nos nossos dias e não foi “devorado” ou esquecido pelo tempo.
O objectivo do diálogo não é narrar o mito tal como foi descrito por Platão - Isso pode ser encontrado em qualquer livro e até mesmo na internet - mas sim, pensar sobre o diálogo e tentar trazê-lo para a actualidade, para um mundo onde se dá mais valor ao ter do que ao ser, em que as imagens valem mais que as palavras e em que as pessoas parecem estar num sono profundo.

*
A: Já aconteceu pensares que estejamos vivendo à semelhança dos prisioneiros da caverna que Platão fala em sua obra, A República?

B: Como assim?

A: Será verdade que em nossa vida não vemos senão sombras da realidade e que isso nos faz preocupar com coisas que não nos trazem proveito nenhum? Já pensaste nisso?

B: Não nunca tinha pensado em trazer a experiência de Platão para a realidade se é isso que queres dizer.

A: Mas será que é mesmo a tua realidade ou a sombra dela?

B: A minha realidade pois, penso que a nossa vida parece ser tão real que é difícil imaginar que não é aqui que se vive realmente.

A: A vida nesse mundo parece sim ser real, mas para Platão ela é apenas uma ilusão.
B: Mas é difícil acreditar.

A: Foi também difícil para os prisioneiros da caverna acreditarem que estavam vivendo numa ilusão e que, as sombras que viam na parede não eram a realidade em si. E, quando um deles foi liberto da ilusão e ignorância que vivia, quis contar aos outros mas eles pensavam que ele tinha ficado louco.

E se fossem eles os realmente loucos, ao acreditarem que as sombras eram a realidade? E se nós hoje, estivermos também cegos e loucos a ponto de não acreditar naquilo que não existe? E se vivemos de facto num mundo de ilusões e aparências? E se existe de facto um mundo para onde se dirigem as almas após a morte? E se esse mundo é de facto melhor que o mundo que estamos vivendo?

A: Penso que se isso acontecesse, a concepção que temos da vida se tornaria do avesso.

B: Mas, e se ver a vida dessa maneira for a única forma de passarmos para um mundo melhor? Isso não valeria a pena?

A: Pode ser que sim mas é difícil acreditar nisso como disse.

B: O prisioneiro libertado também não queria acreditar no que via quando foi libertado da caverna. Antes fugiu para a caverna onde podia ver as sombras que se tinha familiarizado e, portanto, que considerava ser as coisas reais.

A: Mas isso é diferente, é apenas uma história.

B: Mas se ela for uma história real? E se o objectivo de Platão fosse despertar-nos para a realidade? E se aquilo que temos vindo a dar valor não tivesse valor nenhum? Se o corpo for realmente o cárcere da nossa alma?

A: Mas a verdade é que poucas pessoas estão realmente interessadas em pensar dessa forma.

B: Como é que haveriam de pensar dessa forma se estão vivendo a vida como aqueles prisioneiros que não queriam se despertar da ignorância?

A: Queres dizer que nós temos de convencer de que o que vemos são sombras e não as coisas em si?

B: Sim isso que a alegoria da caverna nos queria dizer.

A: Se isso é verdade, então qual seria o objectivo da vida?

B: Precisamente a libertação da ignorância e da  ilusão que vivemos.

A: E como podemos fazer isso?

B: Dando mais valor a alma do que ao corpo, e mais a virtude do que as coisas materiais.

A: Mas há pessoas que nem sequer acreditam na existência da alma.

B: Sim, é verdade e, para essas pessoas, libertação da ignorância pode demorar mais tempo. Mas há pessoas que não querem realmente libertarem-se da ilusão. Penso que isso acontece por dois motivos.

A: Quais?

B: Primeiro porque ainda não ouviram ninguém falar-lhes desses assuntos pelo que os desconhece. Segundo porque já estão tão acostumados a ver as sombras, a conviver com elas que não conseguem sequer pensar na existência de algo para além delas.
A: Falas bem mas será que falas verdade?

B: Podemos viver bem mas será que vivemos a vida real?

A: Devo dizer que estas me confundido.

B: Mas não é minha intenção.

A: Então qual a tua intenção?

B: Levar-te a pensar sobre o assunto e, pelos vistos estou conseguindo.

A: Pois estás.

B: Não sei se a alegoria de Platão conta a verdade. Sei porém que ele nos faz pensar muito a respeito da nossa vida. Eu pelo menos, quero pensar nela, torná-la meu guia e ver até onde será capaz de me levar. Se me leva para um porto seguro de águas calmas ou se para um porto inseguro de águas agitadas.

A: Mas porquê depositar tanta confiança num relato que nem sequer sabes se é verdade?

B: Para mim faz mais sentido viver pensado que esse não é o mundo real.

A: Porquê?

B: Penso que num mundo real, não existem injustiças, vícios nem nenhum outro mal. Quero pois, ver até que ponto sou capaz de deixar a ilusão para trás e me preparar para uma vida real.



sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A verdade deve ser dita...

Era o início do semestre. Parecia um dia como todos, tirando o facto de, a turma toda estar ansiosa para conhecer o novo professor. Esperávamos contudo que, ele não fosse tão assustador como o nome da disciplina que iria leccionar: Concepção, Gestão e Avaliação de Projectos em Educação e Formação.

Faltavam alguns minutos para as oito da manhã quando o professor colocou os pés naquela sala. A sala era bem grande mas, o número reduzido de alunos fazia com que parecesse ainda maior. Não havia nada de especial nela, a não o seu tamanho que a tornava ideal para as grandes palestras.

O professor não era novo na escola. Era um homem da casa como se costuma dizer. Parecia uma pessoa simples e, ainda me lembro quão motivadoras forma as suas primeiras palavras dirigidas à turma. Naquele dia saí da sala radiante!

Transmiti à todos os que, não conseguiram estar presentes na aula uma imagem bastante positiva do professor “salvador”. Dizia para mim mesmo: é desse professor que precisamos;
No segundo dia, a aula foi interessante mas, nem tudo o que é interessante é motivador. E, o que a turma precisara era mesmo de uma elevada dose de motivação. Todo mundo reclamava das metodologias dos professores, e cada dia a coisa ficava pior.

Os dias foram passando e, a imagem inicial que tínhamos daquele professor-salvador começava a perder-se. Era preciso muito esforço e força de vontade para assistir uma aula daquele senhor. As aulas de três horas eram sem dúvidas as mais dolorosas. Perda de tempo total. Talvez se não existisse uma lista para controlo das presenças e, um limite de faltas, a grande maioria da turma preferia ficar a dormir ao ter que assistir as aulas. Pode-se pensar que eu estou exagerando, mas se falar a verdade for sinónimo de exagero, então provavelmente estarei sim exagerando.

Existe em mim sempre a impressão de que não me encontro numa Universidade de verdade. Talvez elas funcionam todas da mesma forma. Mas prefiro acreditar na existência de algumas onde se aprende de verdade, onde podemos encontrar professores e alunos de verdade. Onde a relação professor-aluno seja antes de mais uma relação voltada para a construção conjunta do conhecimento. Não de qualquer conhecimento mas daquele que nos faz falta e que nos motiva a querer saber mais e mais.

Há momentos em que entro na sala de aula e quando saio, sinto um vazio enorme. Vejo isso como um alerta ou sinal de que, não aprendi nada de relevante.





quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ensinar ou Orientar?





 



O presente diálogo tenta perceber que tipo de relação existe entre o mestre e o discípulo. Cabe ao mestre ensinar ou orientar o discípulo?
Se lhe cabe ensinar, poderá ser capaz de ensinar o que não sabe? E, por outro lado, se é um orientador, poderá orientá-lo para um caminho que nunca percorreu?

I

M: Há quem chamamos mestre e quem chamamos discípulo?

D: Perfeitamente

M: Quem é mestre sempre o foi ou antes de o ser fora também discípulo?

D: É óbvio que fora antes disso um discípulo

M: Não é verdade que muitos dizem que a função do mestre seja ensinar e a do discípulo aprender?

D: Sim e, penso que falam bem.

M: O mestre ensina somente o que sabe ou também o que não sabe?

D: Como é que alguém que não sabe uma coisa seja capaz de o ensinar à alguém? Não entendo

M: Eu também, custa-me acreditar nisso. Aliás, custa-me acreditar também que,  a função do mestre seja realmente ensinar.

D: Mas, se não é isso que é a sua função então qual é?

M: É o que tentaremos compreender. Se o discípulo discorda do mestre num ponto, qual deve ser a posição deste? Repreende-lo ou incentivá-lo a investigar mais sobre a sua posição?

D: Penso que o mestre deveria repreende-lo pois, o discípulo deve respeito ao mestre.

M: Mas, repara que, se o mestre repreendesse todos os que, discordam dele, isso nos levaria a pensar que ele sabe tudo. E, como tínhamos dito antes, há coisas que os mestres não sabem. Ou não é isso que dissemos antes?

D: Sim

M: Então, não convém ao mestre incentivar o discípulo do que repreende-lo?

D: Sim

M: E quanto ao incentivo é uma coisa boa somente quando for feita de boa-fé não é?

D: Acredito que sim

M: O mestre que é bom não quererá o bem para o seu discípulo? 

D: Sim

M: Então, achas que, ele deverá   incentivá-lo mesmo quando esse incentivo se mostrar ser prejudicial?

D: Claro que não.

M: Antes disso, diz o que pensa e jamais tenta prejudicar o discípulo não é?

D: Penso que sim

M: Incentiva-o a procurar,  alertando-o para os perigos ou não se preocupa em fazer isso?

D: Mas que tipo de mestre seria esse se não alerta o discípulo para os perigos da sua jornada?

M: Para mim, o mestre se parece mais com alguém que orienta do que alguém que ensina. Mas, a decisão de seguir um caminho ou outro é sempre do discípulo. Pois, qualquer forma de imposição ou obrigação do mestre para com o discípulo deixa de ser uma orientação.

D: Mas se o discípulo descobrir que o caminho escolhido não foi o melhor?

M: Tentará o quanto antes redireccionar o seu trajecto. E não poderá culpar ninguém a não ser ele mesmo pela sua escolha. Ao passo que, se o caminho a ser seguido fosse imposto ou obrigado por alguém não poderíamos dizer o mesmo. Ou não achas que, aquele que nos obriga a seguir um caminho seja tão culpado quanto nós em caso de fracassarmos?

D: Evidentemente que sim.

M: Então deixemos que os mestres nos orientam mas que, nunca decidam por nós!